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*Adonai Aires de Arruda
“Todo poder será fraco, a menos que esteja unido”, escreveu o poeta francês Jean de La Fontaine, que viveu no século XVII e ficou famoso por organizar coletâneas de fábulas, sempre inspirado pela obra do escritor grego Esopo. Quase 400 anos depois, a máxima ainda é válida e se aplica às mais diferentes circunstâncias da vida no século XXI, inclusive na atividade econômica.
Historicamente, empregados e empregadores colocam-se de lados opostos da mesa, dialogando apenas para definir questões pontuais, em geral em um formato mais de negociação que de parceria. E, embora as empresas sejam economicamente mais fortes que seus colaboradores, Esopo nos recorda que nenhum poder é válido se não estiver em acordo com aqueles que caminham a seu lado. Do ponto de vista do empregador, essa é uma realidade fundamental. É preciso aprender a ouvir e ponderar com atenção as demandas que chegam do outro lado da mesa.
Exercitar esse diálogo é sempre um desafio. Isso acontece porque, ironicamente, as forças envolvidas nele não parecem ser equivalentes. Enquanto, de um lado, estão os empresários, donos dos meios de produção, do outro estão os colaboradores, donos da força de trabalho. Historicamente, são categorias opostas e nada têm em comum. Empresários são aqueles que detêm os postos de trabalho e, sem eles, não há emprego possível. Por sua vez, sem os trabalhadores, as máquinas tampouco são capazes de gerar sozinhas o desenvolvimento de que as companhias tanto precisam.
Quando se analisam as grandes greves que o mundo já testemunhou desde a Revolução Industrial, esse abismo parece mesmo intransponível. Em 1886, por exemplo, a Greve Geral dos Estados Unidos paralisou as atividades industriais em todo o país a partir do dia 1º de maio. A reivindicação de redução de jornada e aumento de salários foi tão emblemática que resultou na criação do Dia do Trabalho, celebrado nessa mesma data até os dias atuais, além de gerar as jornadas de oito horas diárias, também adotadas em muitas partes do mundo ainda hoje.
No entanto, embora esse cabo de guerra tenha muitos outros capítulos ainda por serem escritos, é justamente nas diferenças entre empresários e trabalhadores que reside o grande potencial econômico da sociedade contemporânea. Não é exagero dizer que as próximas décadas verão uma mudança drástica na forma como empregados e empregadores se relacionam. Isso porque as bases do capitalismo moderno não se sustentarão sem uma boa dose de empatia, diálogo e esforço coordenado em prol de objetivos comuns. Os resultados dessa união são férteis e vão permitir que passemos a uma nova era econômica.
Prova disso é o setor de limpeza, asseio e conservação no Paraná. A união entre o Sindicato das Empresas de Asseio e Conservação no Estado do Paraná (SEAC-PR) e o Sindicato dos Empregados em Empresas de Asseio e Conservação de Curitiba (Siemaco Curitiba) possibilitou a resolução de grandes problemas dos dois lados da moeda. Do lado dos empregadores, era notória a dificuldade para encontrar mão-de-obra qualificada para ocupar as funções do setor nas mais diversas frentes. Já os trabalhadores, tinham dificuldades para acessar conteúdos desenvolvidos especificamente para suas profissões. E nenhuma das duas categorias seria capaz de solucionar esse impasse sozinha.
Assim, sentados lado a lado para debater possíveis estratégias para uma mesma dor, o sindicato laboral e o patronal decidiram por uma iniciativa inédita no Brasil. Juntos, criaram a Fundação de Asseio e Conservação, Serviços Especializados e Facilities (Facop), instituição que existe desde 2002 e tem justamente o papel de oferecer capacitação adequada aos trabalhadores do setor. Os profissionais passaram a ter acesso a cursos desenhados especialmente para as funções que exercem, enquanto as empresas agora têm a oportunidade de contratar colaboradores já treinados para seus postos de trabalho.
Há duas décadas, esses sindicatos atuam juntos em nome do desenvolvimento do setor, mantendo um diálogo que possibilita muitas ações benéficas para as duas partes. Como adiantou La Fontaine, não há poder válido sem o tempero da união.
*Adonai Aires de Arruda é presidente do Sindicato das Empresas de Asseio e Conservação no Estado do Paraná (SEAC-PR) e da Fundação de Asseio e Conservação, Serviços Especializados e Facilities (Facop).