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Opinião: Educação integral para seres humanos integrais

Milena Santiago Passos Lima*


Das primeiras palavras, ainda no colo, à formação de ideias complexas, identidades e decisões da vida adulta, cada ser humano tem à disposição um universo de possibilidades. A despeito do desejo dos pais, os rumos que levarão cada um a se tornar um profissional desta ou daquela área do conhecimento estão muito mais ligados às oportunidades que recebem e aos ambientes a que são expostos. A partir de 2022, a escola assumirá uma porção muito mais significativa desse papel de oferecer a chance para que cada adolescente descubra e explore em si mesmo todo o potencial prático e criativo de que dispõe.

Quando se fala em ensino integral, logo vêm à mente dias inteiros dedicados aos estudos, livros e cadernos abertos sobre as mesas e carteiras durante o máximo possível de horas. Essa cena tem pouco a ver, entretanto, com o que devem se tornar os últimos anos de Educação Básica a partir de 2022. As novas normas que regem o Ensino Médio falam mais sobre permitir que cada estudante conheça e desenvolva habilidades variadas que, de fato, exigir longas horas de leitura e resolução de exercícios de forma mecânica. Toda a proposta gira em torno de formar adultos capazes não apenas de solucionar os próprios problemas, mas de analisar situações complexas em diferentes contextos.

Uma das novidades é o projeto de vida, que passa a fazer parte do currículo obrigatório. O olhar sobre a trajetória pessoal e profissional do aluno não vai se verificar apenas em ações periféricas, com aulas especializadas, mas estará materializado em uma disciplina, com orientações sólidas sobre como se organizar, compreender como atingir objetivos, preparar rotinas de estudos, inspirar-se com as muitas biografias que ajudaram a construir o mundo em que vivemos, aprender sobre a profissão escolhida. É como se a escola da vida, tão falada na sabedoria popular, finalmente pudesse encontrar a educação formal. Todo esse conhecimento pode ser sistematizado e repassado às novas gerações.

Por sua vez, a experimentação precisa ser, mais que tolerada, estimulada. O estudante passa a ter um espaço para exercitar a própria voz, antes de fazer-se ouvir mundo afora. A entrada na vida adulta não precisa ser traumática e cheia de inseguranças. Para que isso não aconteça, acumular vivências diversas é fundamental. E é sobre esse tipo de formação integral que fala o Novo Ensino Médio. Trata-se de uma mudança de cultura escolar, mais que uma mudança de currículo. O objetivo é possibilitar que cada estudante tome para si a responsabilidade de escrever a própria trajetória profissional, mas também pessoal. Para isso, a proposta aproxima esses jovens do mercado de trabalho por meio do ensino vivencial em áreas variadas. É esse ensino que vai trazer o adolescente para uma realidade muito similar àquela que ele vai encontrar quando não mais precisar frequentar os espaços escolares - e compreender os muitos fatores envolvidos nesse processo.

E, embora o vínculo com as carreiras possíveis seja um dos pontos fortes do Novo Ensino Médio, não é nessa característica que reside a revolução, mas justamente no olhar socioemocional que ele joga sobre os estudantes. Preparar para a vida é muito mais complexo que treinar mão-de-obra qualificada. Essa tarefa depende da formação dos professores e da capacidade da equipe pedagógica de olhar com carinho para cada vida que passa pela escola. As vivências desse Novo Ensino Médio precisam estar conectadas a um propósito mais amplo, de longo prazo, que é formar cidadãos autônomos.

Com as mudanças previstas, podemos esperar uma escola muito mais voltada ao cotidiano, atenta ao que acontece para lá de seus muros e cadernos. Uma escola que valoriza cada trajetória na plenitude de sua singularidade, que contribua para a formação não apenas de profissionais, mas de pessoas. Uma escola integral que olha para si mesma e para o outro, e que forma seres humanos completos.

*Milena Santiago Passos Lima é coordenadora editorial do Sistema Positivo de Ensino.

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