Um estudo global realizado pelo Center for Universal Education (CUE), da Brookings Institution, com apoio da consultoria Vozes da Educação, revelou que, no Brasil, 61% dos pais preferem escolas que priorizam o desenvolvimento socioemocional dos alunos, incluindo habilidades como empatia, autoconhecimento e habilidades sociais
Pais brasileiros querem mais do
que boas notas. É o que mostra uma nova
pesquisa internacional que aponta para uma mudança importante nas expectativas
das famílias brasileiras em relação à educação escolar. Realizado pelo Center
for Universal Education (CUE), da Brookings Institution (EUA), com apoio da
consultoria brasileira Vozes da Educação, o estudo mostra que 61% dos pais
brasileiros priorizam escolas que desenvolvem competências socioemocionais como
empatia, autocontrole e habilidades de convivência.
Embora 53% ainda considerem o
preparo acadêmico para o ensino superior como função principal da escola, a
maioria reconhece o valor de uma formação mais ampla, que prepare os estudantes
para lidar com os desafios da vida em sociedade. O levantamento ouviu mais de
22 mil pessoas em 16 países, entre pais, estudantes e educadores, analisando 235
escolas nos seis continentes.
De acordo com Laura Nóra,
consultora educacional da Vozes da Educação, os dados refletem uma mudança de
mentalidade entre os pais brasileiros. “O mundo exige cada vez mais
competências socioemocionais, e as famílias estão cada vez mais cientes disso.
Não basta tirar boas notas, é preciso saber lidar com pessoas, com as próprias
emoções e com os desafios do cotidiano”, afirma.
É isso que espera Antônio Carlos Rocha, pai da Rafaella Rocha do 7º ano do ensino fundamental do colégio Ideal de Taguatinga. Para ele, a escolha de uma escola deve ter uma base de valores além de conteúdo acadêmico “Um dos fatores decisivos para matricular a Rafaella foram os projetos que a escola desenvolve para formar o lado humano e social dos estudantes. Quando a escola trabalha isso desde cedo, ela está contribuindo para um futuro melhor, não só para os alunos, mas para todos ao redor deles”, diz Antônio Carlos.
Educação com Propósito
Tendência entre as escolas
socioemocionais, Pedro Good, aluno do 1° ano do ensino médio participa
ativamente de projetos sociais que promovam doação, empatia e amor ao próximo.
“Aprendo muito quando participo dessas ações. Além de me colocar no lugar do
outro, ouço sua história de vida e conheço outras realidades diferentes da
minha. E conhecendo essas realidades
diferentes, nós conseguimos pensar e refletir sobre a importância da caridade,
a importância da partilha, a importância da convivência com as pessoas, de
ajudar aqueles que precisam. Esse aprendizado fica para a nossa vida toda”,
fala Pedro.
Na última campanha que
participou, “Páscoa Solidária”, Pedro e os colegas conseguiram arrecadar mais
de 18 toneladas de donativos de alimentos. Mais do que doar, os alunos
participam de todas as etapas do projeto, do planejamento à entrega. A
iniciativa é parte do projeto pedagógico da escola, que inclui rodas de
conversa sobre empatia, oficinas temáticas e visitas às instituições
beneficiadas. “A Páscoa Solidária é um projeto que me comove desde que eu
entrei na escola. É um projeto que arrecada alimentos e doa para as famílias
mais necessitadas no momento de partilha, que é a Páscoa
Campanhas como essas permitem que
os estudantes mobilizem o que aprendem em sala, como matemática, escrita,
comunicação e organização, em prol de algo maior, com propósito social. Ações
como a Páscoa Solidária não apenas beneficiam quem recebe, mas também moldam o
olhar dos jovens sobre o mundo ao seu redor. "Enquanto escola nós
percebemos que os alunos se tornam ainda mais conscientes, confiantes e
preparados. Conscientes do meio em que vivem e do como a sociedade se comporta
ao seu redor. Confiantes de que eles podem ser protagonistas em fazer a
diferença, seja na vida de uma pessoa, uma instituição ou mesmo na comunidade
inteira que o cerca. E preparados para o que podem enfrentar, pois ao
vivenciarem situações e contextos variados, eles ganham ainda mais repertório
cultura”, explica a Diretora Pedagógica do Colégio Ideal, Amanda Mussauer.
A campanha Páscoa Solidária encerrou no dia 09 de maio e as instituições Centro de Projetos e Assistência Integral (CEPAI), Santos Inocentes, Associação Brasiliense de Deficientes Visuais (ABDV), Cristolândia, Lar São José e Pastoral São José estão recebendo as doações com a participação dos próprios alunos. As instituições beneficiadas atendem centenas de famílias em situação de vulnerabilidade no DF.
Por que unir conteúdo e
valores faz a diferença?
Especialistas em educação
destacam que a formação integral dos estudantes, que alia excelência acadêmica
ao desenvolvimento de valores humanos, é mais do que uma tendência global: é
uma urgência no contexto educacional brasileiro. Essa abordagem contribui para
a formação do caráter, desenvolvendo qualidades como ética, empatia e
solidariedade, que influenciam as escolhas e atitudes dos alunos ao longo da
vida.
Para Hugo Versani, coordenador pedagógico
médio e professor de LIV (Laboratório de Inteligência de Vida), projetos que
conectam o aprendizado escolar a valores humanos e causas reais tornam o
aprendizado mais significativo e relevante para os estudantes. “Quando os
alunos conseguem perceber a aplicação prática do que aprendem e se envolvem em
questões que impactam a sociedade, desenvolvem um senso de propósito e
pertencimento. A curto prazo, isso fortalece o engajamento e o interesse pelo
aprendizado. A médio prazo, contribui para a construção de habilidades
socioemocionais, como empatia e trabalho em equipe. A longo prazo, esses
projetos ajudam a formar cidadãos conscientes, preparados para atuar de maneira
responsável e transformadora em suas comunidades”, afirma.
Ambientes escolares que promovem
esses valores também favorecem a convivência saudável, reduzem situações de
violência e fortalecem vínculos entre alunos, professores e comunidade.
Essa visão de educação está cada
vez mais alinhada às expectativas das famílias brasileiras, que buscam
instituições comprometidas não apenas com o desempenho acadêmico, mas com a
formação de indivíduos preparados para viver em sociedade, transformar
realidades e construir um futuro mais justo e solidário.